O Portal de Trancoso desde 1999
 
 

 

   

Os melhores anos de nossas vidas...

Fernanda (Manga Rosa)
nandacarneiro@uol.com.br

 Trancoso era um povoado isolado do mundo, até os anos 70 do século XX.. Seu povo vivia com costumes do século XVIII. Não circulava dinheiro, não havia estradas, nem fechaduras nas portas. Água abundante ...  só lá em baixo, no Itapitanga, digo, Rio Trancoso.

  Perto das águas tudo é feliz - as lavadeiras, o banho nas fontes, as brincadeiras... mas eram  mulheres e crianças que subiam a Ladeira Velha com latas dágua. Ufa! Que divisão de trabalho sacana! E quando chovia? Vixe! Tampouco havia energia (leia-se énergía). A noite ... hum ...  à noite escura ... a gente olhava tudo de forma diferente. Além das matas, habitava o desconhecido, cheio de mistérios e lendas. 

 Laços de amizade e parentesco era o centro da vida cotidiana. Tudo transcorria em torno de um lugar de beleza única: o Quadrado ou Praça São João Batista, antiga Aldeia São João Batista dos Índios - Missão jesuítica - transformada, por ato régio, em 1759, em Villa Nova Trancoso (Inventário IPAC-Ba, Secretaria da Ind. e Com., 1988). 

 Havia uma comunidade - o problema de um era problema de todos. Notícias de fora ... só pelos navios, pelos tropeiros ou por nobres viajantes, colonizadores, que circulavam por aqui. Dois séculos se seguiram de abandono pelo poder público. 

 Até que inaugura-se a BR 101 ... E a região foi re-descoberta. 

 Dos anos 70 até a chegada da luz elétrica, em 1982, um tesouro cultural permaneceu resguardado. 

 Os primeiros viajantes que aqui chegaram (e muitos ficaram) eram jovens que buscavam uma vida alternativa - Os mais citados pela memória nativa dos anos 70 são : Omar, Aldo, Gilbert, Leila, Joel, Ricardo, Lia e Calé, Augusto e Isa, Vegetal. E tantos outros,  que encontraram o Belo e se encantaram, não apenas com a exuberante paisagem azul e verde, rosa e lilás... com a perfeição do desenho da Igreja São João e das casinhas quase arruinadas: por trás daquelas paredes, morava uma gente simples, generosa, acolhedora. Tudo era familiar. 

 Famílias tradicionais locais - Alves, Conceição, Vieira, Lima - ou da região - Cristo, Vinhas, recriaram durante séculos uma cultura cabocla, com fortes traços indígenas mesclados às tradições religiosas de herança jesuíta. Algumas casas ficavam vazias, podiam ser emprestadas, e eram ocupadas em dias de festas de santos. E lá vinha, todo santo mês, o povo das roças em seus melhores trajes, para dançar, tocar, namorar, conviver. Um luxo! 

 As festas permanecem vigorosas - é a principal tradição do lugar, e são vivas as oportunidades do encontro autêntico com pessoas da comunidade.

  -         Que diferenças e semelhanças os primeiros viajantes desta era têm com os de outrora? 

 Assimilaram muito dessa cultura e testemunharam uma nova ordem de problemas. Na verdade, trouxeram muita influência. A vida econômica passou a ocupar o cotidiano e... as assombrações se mandaram daqui. ...  Lá vai, lá vai... Temos histórias pra contar e muito mais para ouvir... 

 Fato é que - quem não dormiu naquele chão, com percevejos e pernilongos (cobra lá vez ou outra), quem não bebeu jurubeba quente (e a laranjinha do Deus Dará?), quem não viu Francisco Grande dançar... nem sequer sonhou. Nada perturbava aquela festa, aquele ritmo e espaço perfeitos. São lembranças que encantarão o resto de nossos dias... 

 

Memória, tradição e modernidades 

 Projeto Trancoso - um legado ao futuro 

 Nativos e biribandos

 Para que os descendentes nativos, os moradores e visitantes não sejam indiferentes ao patrimônio humanístico deste Povoado, algumas iniciativas estão sendo propostas através de entidades locais, como o Projeto Trancoso - um legado ao futuro (Associação Arte Ofício Trancoso/Petrobrás/Ministério da Cultura) de autoria de Fernanda Carneiro (Manga Rosa), com o apoio para a obtenção de patrocínio. de Ricardo Salem, Dôra e Alexandre Machado 

 Estamos escrevendo a fala de nativos e dos primeiros viajantes (história oral), e também recolhendo imagens/fotos (pesquisa iconográfica).. Relações de parentesco formam um tecido humano divertido e a paisagem cultural surge através de causos de Trancoso Antigo:  Se cada pessoa pescar em seus baús imagens e documentos históricos (até 1982) ... uma rica memória daremos a conhecer. 

- Trancoso era só pariri pelo meio da rua; as galinhas botavam ovo no meio dos matos. Matava caça na rua. No quadrado a gente matava coelho, tudo no mato. Era muita fartura, conta Bernarda arrematando com seu bom humor: 

- Fartava tudo!

 Já registramos 50 depoimentos – de 34 nativos e 16 biribandos. Selecionamos quase 300 fotos. Tudo isso comporá um acervo e alguns produtos para exposição: um livro, sob a responsa de Fernanda Carneiro (Manga Rosa) e sua parceira na escrita, Cristina Agostinho e Luciana Leite no projeto gráfico; alguns Marcos Históricos, para compor as fachadas das casas históricas, com assessoria de Silvia Mecozzi e Damião, um vídeo de Sérgio Sbragia e uma tela de Damião. O SPHAN/Porto Seguro acompanha este movimento de preservação da memória e já tem um rico acervo produzido, anteriormente, por equipe da UNICAMP e que é também nossa fonte de pesquisa. Nicélia Conceição Vieira, vem sendo a principal auxiliar. Mauro Batista, professor de História já colaborou com a pesquisa documental, Mundinha, Raimunda Silva Soares, contribuiu nas entrevistas, Cláudio Santos transcreve fitas... João Farkas e suas fotos dão um extraordinário depoimento do olhar viajante, Márcia Moraes, Isa Castro e Augusto Sevá remexem seus baús de retratos.

 - e você? como pode participar dessa garimpagem memorial?

Se tem alguma foto significativa do tempo antes da luz elétrica (1982), envie-a para nós. Poderá ser selecionada para compor o livro ou fará parte do acervo.
Estamos interessados em fotos das casas da Praça São João - Quadrado Histórico - dos personagens nativos e dos primeiros viajantes

 Enviar para:

 lu@imagelink.com.br 

 

Ou pelo correio tradicional, registrado, para:

 

Projeto AAOT/ Petrobrás/MinC

 A/C Fernanda Carneiro

 Rua Almirante Alexandrino 3226/302/

CEP 20241-262  Rio de Janeiro 

Ou entregue, em mãos, à Nicélia, filha do Frô e Creuza.

 
 


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